quarta-feira, 25 de novembro de 2009

A Revista Tex: Um bom exemplo!

Tex Anual 07: O Trem Blindado

Argumento de Antonio Segura e Desenhos de José Ortiz.

Resumo: Com o objectivo de reconquistar as terras que o México perdeu para os Estados Unidos durante a guerra de 1846, o general Contreras recrutou um exército de guerrilheiros que espalha a violência e o terror na zona da fronteira. As incursões por terras americanas serão ainda mais decisivas logo que Contreras receba ouro, armas e munições que se destinam à sua causa. Tudo isto viajará num comboio blindado e bem escoltado, mas Tex e Carson, a pedido do exército americano, vão ultrapassar a fronteira e tentar arruinar os intentos do militar.

Comentário: O trem, esse elemento aglutinador de distâncias, representativo da evolução do oeste americano, agregador e, ao mesmo tempo, separador entre estados e povos, sempre tão presente em múltiplas aventuras e no imaginário colectivo. Segura escolheu o trem para, não diremos protagonizar uma grande aventura de Tex, mas como seu elemento mais importante, onde tudo gira e sobre o qual recaiem todas as expectativas. Seguramente que uma certa ideia de nação e patriotismo está na base das ambições do General Conteras, alguém que planeia vingar-se da derrota mexicana com os Estados Unidos e que almeja reconquistar os territórios então perdidos.

Existirão aqui duas vertentes históricas no argumento, porque Segura congrega em redor do trem e do seu papel relevante, um elemento verídico que está na origem das motivações de Contreras. Mas se existe no argumento uma visível dependência do trem, essa dependência também se fará sentir no papel que um grupo de homens desempenhará no rumo dos acontecimentos.

Inicialmente com Tex, Carson e Butt, mais tarde também com Raul, Tony, Sam e Jerry, o sucesso ou o insucesso da missão dependerá da habilidade de um grupo que Segura vai descrever com mestria. O grupo conseguirá levar a cabo um ambicioso plano tendente a desviar um trem blindado, porque existe qualquer coisa entre todos os seus elementos que os une a esse objectivo. São motivos diversos, mas que Segura vai expôr convincentemente, caracterizando fraquezas e expectativas. A habilidade do autor espanhol também se irá reflectir em campo oposto, porque em redor de Contreras, Segura contrapõe o mercenário Von Arnin a Dom Ramon e este a Alvarado. Há um desfilar de uma rica galeria de personagens e psicologias, de carácteres e motivações, cada um movido pelas suas paixões, pelas ambições ou meramente pelos seus intentos. É eventualmente nesta composição mesclada que Segura se afasta dos cânones bonellianos e de Nizzi, aproximando-se mais de Boselli. Segura conjuga bem as características das personagens, através de uma história realista, credível e apaixonante. É interessante seguir Tex no processo de conhecimento do terreno, da sua preparação e no engendrar de algo que possa acabar com os intentos de Contreras.

É interessante a caracterização que Segura expõe muito bem entre o estudo e planeamento e a passagem a uma acção plena e decisiva. Segura respeita a personagem, porque o seu Tex é decisivo e heróico, mas o seu Tex não é o de Bonelli. Porque o Tex bonelliano recorreria a Carson, Kit e Tigre e não a um grupo de personagens movidas por diferentes objectivos e onde se inclui, por exemplo, um antigo fora-da-lei. Terá sido opção pessoal ou meramente não ter um conhecimento profundo da personagem?A aventura é enérgica e nervosa, sentindo-se sempre algo nebuloso no ar. Algo que permanece sempre por explicar, qualquer coisa que nos foge e que o autor pretende guardar sempre para o momento seguinte. E o momento seguinte acaba por ser o momento final, quando Segura constrói um epílogo pouco aguardado, mas eventualmente também pouco credível e ingénuo, pelo menos no modo como Tex acaba quase por ser surpreendido.

Ortiz compõe um Tex marcadamente ticciano, vigoroso e seguro de si. Mesmo a composição das personagens denota essa tendência para acompanhar os cânones ticcianos, com personagens maniqueístas carregadas de expressões reveladoras das suas condutas. O autor usa e abusa dos efeitos de luz e sombra, sublinhado nos cenários e nos ambientes, de uma forma ímpar nos desenhadores texianos. Apesar de perpassar uma leve sensação de falta de definição nos traços de algumas personagens, a verdade é que o autor espanhol consegue, mesmo assim, uma grande realeza e transmitir bem ao leitor as incidências da aventura. Mas o formato mais reduzido (da edição brasileira da Mythos) tende a deixar no leitor uma certa sensação de asfixia decorrente desta tendência em abusar do negro.


Póster Tex Nuova Ristampa 5


Neste belo desenho nocturno, de Claudio Villa, vemos no interior da paliçada,
Tex e elementos da Real Polícia Montada do Canadá, os denominados Casacas Vermelhas, com a ajuda de um canhão, defendendo-se heroicamente, durante o dramático assédio por parte de índios Mohawks e Saks, comandados por Dente de Cão a serviço da “Mão Vermelha”, ao Forte Kinder.

Desenho usado no Brasil como capa de Tex Edição Histórica #7 e inspirado na história, “L’Orma della Paura” de G. L. Bonelli e Galleppini (Tex italiano #10 e #11).
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Texto de José Carlos Francisco



Tex Série Normal: Rumo a Forte Apache

Argumento de Mauro Boselli e desenhos de José Ortiz, com capa de Claudio Villa. Com o título original Sulla Pista di Fort Apache, a história foi publicada em Itália nos nº 458 a 460 e no Brasil pela Mythos Editora nos nº 373 a 375.

O Arizona encontra-se a ferro e fogo, uma vez que um grupo de apaches rebeldes chefiados por Chunz luta contra o exército americano instalado em Forte Apache. Cansado dos métodos repressivos do tenente Parkman, Cardona, o chefe dos índios coioteiros, vai abandonar a sua reserva em Forte Apache e juntar-se a Chunz, apesar de não partilhar nem aprovar o ódio radical que este nutre pelos brancos. Entretanto, uma patrulha de soldados conduz Liz Starret que chegou ao Arizona para se encontrar com Parkman, o seu noivo, mas cai numa cilada, sendo salva por Tex e Tigre que estão na região para resgatar alguns jovens navajos que se juntaram a Chunz. Ingredientes quanto baste para um ambiente tenso e violento, onde Tex vai jogar muita da sua perícia e diplomacia como Águia da Noite.

Índios confinados a reservas onde não são permitidas muitas das suas práticas e tradições parece ser um tema recorrente na saga texiana. G.L. Bonelli tratou por diversas vezes da temática, criticando sempre de modo bem vincado a pouca dignidade com que Washington tratou as tribos índias. Boselli vai buscar um pouco destas raízes bonellianas e constrói uma aventura plena e grandiosa, uma verdadeira epopeia. No ambiente que a rodeia, com um forte isolado em pleno território controlado por índios rebeldes; no estoicismo de alguns em defesa de valores; pela relação que se estabelece entre duas personagens (Liz e Laredo) que se opõem numa primeira fase e que é digna dos melhores clássicos do género; ou ainda pelo conjunto de sentimentos contraditórios, como o ódio índio ao branco ou a repulsa por métodos inflexíveis em defesa de políticas emanadas dos gabinetes de Washington.

Esta real capacidade de Boselli em saber sempre ir mais além dos cânones texianos, começa sempre na natural habilidade do autor em construir personagens, conferindo outra densidade e alcance às aventuras do ranger.Repare-se, por exemplo, que a ausência de Carson é notavelmente compensada pela personagem de Laredo, um batedor do exército que passa por toda a aventura como um verdadeiro aliado de Tex, compreendendo-o, auxiliando-o e sustentando toda a acção de Águia da Noite. Numa só aventura, Laredo assume-se como uma personagem marcante, por força da sua vincada personalidade. Boselli também marca pontos com a composição do tenente Parkman, um oficial inflexível, cujo ódio aos índios não lhe permite actuar na melhor defesa dos interesses dos homens que comanda, preferindo sempre adoptar uma postura que lhe granjeie outros voos na sua carreira. Em Parkman Boselli representa toda a cegueira e a prepotência de Washington e só quando acossado e diante de uma inevitável derrota, consegue afinal destrinçar o real do acessório.

Também o traço de Ortiz contribui, e de que maneira, para a dinâmica da aventura. Ortiz consegue sempre expressar no papel a plenitude de sentimentos e o dramatismo da acção, construindo personagens de modo expressivo notável, com especial realce para a caracterização física do bando que vende armas aos rebeldes, onde o autor espanhol adopta um profundo maniqueísmo que nos habituámos a ver, por exemplo, em Ticci. Ágil e nervoso, o seu desenho marca pontos nas cenas nocturnas, onde os seus pretos intensos e carregados conseguem ampliar o suspense da acção, conferindo-lhe ainda uma maior carga dramática.

No fundo, uma aventura vivamente aconselhada a todos os amantes do verdadeiro western.

Texto de Mário João Marques

Póster Tex Nuova Ristampa 4

Desenho onde Claudio Villa mostra um grande e sagrado puma, libertado pela horrenda Yauka, a mando do seu filho Toba, o fanático sacerdote da seita do “Deus Puma”, atacando Tex, que se defende com um punhal (dado pelo pequeno e bravo Alce Pequeno, filho de Minoba).

Desenho usado no Brasil como capa de
Tex Edição Histórica #6
e inspirado na história, “La Freccia della Morte“ de G. L. Bonelli e Galleppini (Tex italiano #9).
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Texto de José Carlos Francisco


Claudio Villa Escreve Mensagem ao Blogue
É com natural e imensa satisfação que o nosso blogue recebeu uma mensagem do grande Claudio Villa. Uma mensagem que deixamos aqui na sua língua materna, mas também a respectiva tradução, para que todos, sem excepção, possam usufruir na plenitude as suas palavras. O nosso muito obrigado a tão grandioso artista. Grazie Claudio!

In queste immagini ho cercato di ”incontrare” il Tex più autentico: la Leggenda.
Quel Tex che è nel cuore di ogni lettore dalla prima storiain cui lo ha incontrato e da cui è stato “rapito”. E immagine dopo immagine il suo “ritratto” si va sempre più chiarendo nella matita. Con la convinzione che il lettore che è dentro di me guida la matita del disegnatore che lavora….
Ciao!
Claudio Villa

Nestas imagens procurei “encontrar” o Tex mais autêntico: a Lenda.
Aquele Tex que está no coração de cada leitor desde a primeira história lida e por quem foi “capturado”. E imagem após imagem o retrato de Tex fica cada vez mais claro no papel.
Com a convicção de que o leitor que está dentro de mim guia o lápis do desenhador que trabalha.

Claudio Villa


Póster Tex Nuova Ristampa 3

Neste desenho, Claudio Villa retrata a cena em que a jovem e bela índiaLilyth, filha única de Flecha Vermelha, o chefe dos Navajos, salva Tex, que estava amarrado no poste dos martírios, da morte certa, quando ela interrompe a dança da morte e pede Tex em casamento, salvando-lhe assim a vida.

Desenho usado no Brasil como capa de Tex Edição Histórica #5 e inspirado na história, “Il Salto del Diavolo” de G. L. Bonelli e Galleppini com a colaboração de Guido Zamperoni (Tex italiano #7 e #8).
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Texto de José Carlos Francisco


Estreante Absoluto

Nos últimos tempos, Sergio Bonelli tem reforçado bastante o “staff” de desenhadores de Tex, devido sobretudo à cada vez menor celeridade destes profissionais, mas também ao cancelamento de algumas séries da editora, que obrigam a alguns reajustamentos a nível de desenhadores.

Assim sendo, o
blogue português do nosso ranger, vai passar a apresentar esta nova leva da “scuderia” texiana, isto é, aqueles desenhadores, mais ou menos jovens, mas decididamente talentosos, que já estão a trabalhar, ou estarão em breve, nas páginas da série principal de Tex, ao lado dos “Mestres” já conhecidos e amados.

Não se trata de um puro e simples elenco, o que temos a pretensão de apresentar, mas ao contrário, de uma série de pequenos “retratos de autor“, indispensáveis, no nosso parecer, para captar que dentro de cada desenho, dentro de cada “stiscia”, dentro de cada história, há um indivíduo diferente, com um estilo, um carácter e um percurso profissional sempre diverso.

A ocasião para iniciar esta apresentação, deve-se a um facto de recentíssima actualidade: nos números 552 e 553 de Tex, nas bancas italianas nos meses de Outubro e Novembro de 2006, está a ser publicada uma história em duas partes, ilustrada por um estreante absoluto, isto é Mario Milano!

Estreante, dizemos bem, mas somente no universo de Águia da Noite: de facto, este novo desenhador - que nasceu em Foggia, onde reside e trabalha, em 1968 - pode já gabar-se de ter uma importante actividade como autor bonelliano. Mas vamos por ordem…

Depois de ter sido diplomado em cenografia na Academia de Belas Artes da sua cidade, em 1992, Mario Milano exerceu a profissão de pintor, desenhador gráfico e até cenógrafo teatral, até que no início dos anos noventa, descobriu a banda desenhada. Uma forma de arte que, segundo palavras suas, “Melhor do que qualquer outra, podia-me permitir exprimir finalmente tudo aquilo que tinha dentro de mim, mas também a ocasião que procurava para começar a trabalhar a sério. A banda desenhada é uma espécie de campo aberto que oferece um leque infinito de sensações, de cenários e de histórias, e também infinitas possibilidades criativas. Um belo desenho pode envolver-te, rodear-te, transmitir-te emoções“.

Recrutado em 1994 para colaborador de
Zona X, uma série antológica editada sem grande sucesso pela Sergio Bonelli Editore, Milano ilustra alguns contos “livres” no tema fantástico, para depois passar à saga policial de Nick Raider, onde desenhou o número 149, intitulado “Incidente Letale”. Segue-se a entrada no staff de Mágico Vento - desenhou os números 51, 68, 72 e 84 - onde tem ocasião para enfrentar pela primeira vez o género western, demonstrando saber mover-se com desenvoltura e sentido de ritmo.
E assim, ei-lo hoje merecidamente empenhado em reconstruir a seu modo a atmosfera, menos horrífica mas de certeza não menos dramática e envolvente, que serve de fundo às aventuras de Tex.

Confrontar-me com este autêntico protagonista do ”fumetto” mundial” diz, “foi um desafio, ao qual preparei-me estudando atentamente as pranchas de Giovanni Ticci e com as obras-primas western de um dos meus desenhadores preferidos, o francês Jean Giraud, criador do célebre Blueberry. Giraud, é para mim enorme pela sua excepcional capacidade gráfica, seja pela sua dedicação ao trabalho, pela sua contínua busca de imagens mais eficazes. Sabe caminhar em direcção a horizontes que os outros só alcançam bem mais tarde, ou alcançam após as suas sugestões“. E continua: “Para mim, Tex é o herói perfeito, sem manchas e sem medo, um homem que sabe dizer a coisa justa no momento certo à pessoa certa. É o amigo, o pai, o filho que cada um de nós quer ter. É um excelente exemplo de carácter humano, dotado de todas estas qualidades que todos nós teríamos necessidade para nos tornarmos melhor. Mas não é uma personagem chata, aborrecida, banalmente invencível. Mesmo se a sua pele está sempre lisa, a camisa sempre engomada e o chapéu sempre no seu posto, vê o que muitos viram e nunca perdeu o seu lado humano…


Texto de José Carlos Francisco, baseado na rubrica “Caro Tex…”, de Sergio Bonelli, inserida em Tex Nuova Ristampa nº 170 de 31 de Outubro de 2006.


Póster Tex Nuova Ristampa 2

Neste desenho de Claudio Villa, datado de 1993, vemos a bela, mas misteriosa e pérfida Cora Gray, aliás Satânia, ordenando que o monstruoso gorila Gombo, munido de uma feroz ânsia assassina, mateTex Willer, que se defende de pistola em punho.
Satânia destaca-se na série de Tex, por ser a primeira de uma extensa lista de antagonistas femininas que o ranger encontra na sua longa História.

Desenho usado no Brasil como capa de Grandes Clássicos do Tex #19 e inspirado na história, “
Satania” de G. L. Bonelli e Galleppini (Tex italiano #5).
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Texto de José Carlos Francisco



Tex Mondadori: La Pattuglia Sperduta


Aventura com argumento de Guido Nolitta e desenhos de Giovanni Ticci, publicada pela Editora Vecchi na série normal nº 178 (O Desertor) e nº 179 (Aliados Perigosos)

A própria introdução escrita por Sérgio Bonelli, para mais uma magnífica edição da prestigiada Mondadori, acaba por resumir eficazmente a aventura. A Winchester foi uma das grandes protagonistas do western. O seu papel foi alternando e colaborando com o não menos famoso colt, ambos presença assídua no dia a dia violento do velho oeste, onde quase todos a utilizavam. Sérgio Bonelli pretendeu com “La Pattuglia Sperduta” homenagear a arma do velho oeste e símbolo da aventura texiana, elemento clássico e evocativo do género. Por isso, esta aventura tem por base e elemento principal a arma e toda a história gira em redor de uma nova solução tecnológica que pode vir a ser capitalizada pelo exército americano.

O tenente George Morrow é um verdadeiro expert em armas e vai propor ao exército americano uma sua invenção, capaz de substituir com vantagem os modelos utilizados pelos soldados americanos. Numa primeira fase, o Departamento de Defesa parece decidido a adquirir a patente, mas posteriormente vai recusar, justificando-se com os altos custos que o desenvolvimento desta arma traria. No entanto, por trás desta recusa está o boicote feito pela West Kentucky Company, a empresa que tem vindo a equipar todo o exército americano.
Esta revelação enfurece o tenente Morrow e o Exército destaca-o para um posto num ponto perdido do estado americano. Indignado, Morrow escreve uma carta de demissão e aceita vender a patente da sua revolucionária arma aos soldados mexicanos, a troco de uma elevada maquia de dólares. Ao saberem desta história, através do seu irmão, o sargento Clark Morrow, Tex e Jack Tigre vão procurar o tenente e acabam por encontrar um homem receoso e movido pelo arrependimento da sua acção.

Esta bela aventura de Nolitta, para além da já referida homenagem à arma do oeste americano, serve ainda dois objectivos. Demonstra que os altos interesses instalados em Washington apenas serviam critérios que pouco tinham a ver com a importância e as vantagens que uma nova arma poderia trazer e enaltece a lealdade e a honra de homens que juraram pelo seu país e que souberam colocar os interesses da sua nação acima dos seus próprios objectivos.

Numa primeira fase, o tenente Morrow sente-se injustiçado e revela a sua indignação ao abandonar aqueles que nele confiavam, mas os valores acabaram por falar mais alto. Tex e Jack Tigre vão encontrar um homem atormentado pelos seus actos e que vai afogando o seu arrependimento na bebida, perdido num antro de crápulas da pior espécie. Apesar de Nolitta levantar levemente a velha questão da rivalidade mexicana para com os EUA, sobretudo porque são os soldados mexicanos que vão tentar obter a patente do tenente Morrow, o autor vai explorar sempre mais o lado humano, demonstrando que por detrás de um grande invento estava um homem honrado.

Falar no desenho de Ticci é repetir tudo o que já foi dito deste extraordinário autor, porque Ticci desenha como poucos, transmitindo sempre a aura do velho oeste. Esta aventura passa por vários cenários, começando na neve das montanhas rochosas do Colorado e terminando no tórrido calor mexicano. Passa por vários protagonistas, desde os índios navajo, o exército americano, os crápulas de “Paraíso Perdido” ou ainda os soldados mexicanos. Nenhum ambiente, nenhum cenário, nada é estranho ao desenhador genovês. No dinamismo da acção ou na aparente calma das cenas mais contidas, Ticci faz gala de um traço e de um estilo inimitável. Qualidades que eventualmente só encontram rival em Claudio Villa, outro predestinado das aventuras texianas.



Tex Mondadori: La Legge di Tex

Inclui a aventura Caccia All’Uomo com argumento de Guido Nolitta e desenhos de Ferdinando Fusco. A mesma aventura foi publicada pela Editora Vecchi nos números 68 (Caçada Humana) e 69 (Justiça Para Um Carrasco).

Esta aventura é marcante na saga texiana. Representa a estreia de Nolitta na série e dela guardo gratas recordações quando a li pela primeira vez. G.L. Bonelli teve um contratempo e o seu filho Sérgio foi chamado a remediar esta momentânea ausência do pai. Sob o pseudónimo de Guido Nolitta, o autor construiu uma aventura onde está bem patente o Tex bonelliano, mas onde também impera um Tex que dúvida e que coloca em causa a justiça premeditada dos homens.

Em Springville, Tex e Jack Tigre tratam do aprovisionamento dos Navajos, quando encontram o xerife Tom Kenyon, que julgavam
reformado. Farto do ócio que esta situação lhe proporcionava, Tom Kenyon acabou por regressar ao activo e está na pista de Andy Wilson, um jovem procurado por assassinato. Tex vai acompanhar Kenyon até a um rancho, onde o xerife julga que se encontra o foragido. No rancho todos têm Andy em boa conta, guardando deste a melhor das impressões e por isso vão ajudá-lo a fugir, depois de Andy balear Kenyon. Tex acaba por, solitariamente, ir em perseguição do foragido, no intuito de levá-lo até à justiça.
Com este argumento, Nolitta constrói uma trepidante aventura onde Tex não tem a habitual companhia de Carson. Mas a ausência do velho resmungão e dos saborosos diálogos que sempre acontecem entre os dois rangers, acaba por ser compensada pela relação que se vai estabelecer entre Tex e Andy, demonstrativa de que os valores estão bem acima das leis dos homens.

Gradualmente, Tex vai descobrir em Andy um rapaz que tem tudo menos de assassino, alguém que busca apenas a harmonia e a paz, alguém com honra e com regras de conduta e cujas acções são estabelecidas com o único objectivo de poder lutar pela injustiça da sua situação. Toda esta envolvência que Nolitta muito bem apresenta e explora leva Tex a olhar para o caso de uma forma diferente e cada vez mais distante da inicial. Leva Tex a duvidar realmente dos antecedentes, marcando um certo corte com o Tex bonelliano, este mais pragmático. A marca de Nolitta surge bem evidente na forma como a história é construída, na sua montagem, mas atinge o climax nas cenas finais, quando Tex, paradoxalmente, afirma-se como um justiceiro perante um juiz. Este Tex que busca justiça é um Tex bonelliano, um Tex que ultrapassa todos os seus adversários, mas Nolitta vai mais além, porque transmite na sua conduta os seus próprios sentimentos e a sua acção é guiada por estes.

Fusco assina aqui apenas o seu segundo trabalho na série, com um desenho nervoso e muito dinâmico. O seu Tex vai sofrer uma natural evolução, tornando-se ainda mais cínico na sua expressão e no seu olhar. Aqui ainda denota uma certa frescura ou uma juventude que o autor rapidamente abandonará. Fusco revela já uma notável capacidade em recriar qualquer ambiente, e esta aventura é bem caracterizadora, porque permite ao autor desenhar em pleno os ambientes da cidade, das extensas planícies, mas também do sufocante deserto, além de outros mais fechados, como os bares ou a notável sequência do palheiro. Aventuras como esta deixam-nos já saudades de Fusco, devido à sua anunciada retirada.



Póster Tex Nuova Ristampa 1

Este foi o desenho de capa feito por Claudio Villa, propositadamente para a primeira edição brasileira de Tex Edição Histórica. Uma colecção que nasceu com o objectivo de republicar as aventuras completas de Tex Colecção e que teria como atractivo sempre uma capa inédita, propositadamente feita por Claudio Villa.
Este desenho, onde Tex saúda os seus leitores, foi aproveitado em 2006 para capa dos fascículos da série italiana Il Mondo di Tex.


O prestigiado site italiano uBC Fumetti dá a conhecer aos seus internautas o blogue português do Tex!

O prestigiado site italiano uBC Fumetti(http://www.ubcfumetti.com/), o primeiro weblog italiano sobre banda desenhada, dá a conhecer aos seus internautas, na sua rubrica de notícias, o blogue português do Tex, indicando-o em http://www.ubcfumetti.com/weblog/?2738 da seguinte forma:

È nato il primo blog portoghese su Tex
Cari amici, è nato il primo blog portoghese sul nostro amato ranger, all’indirizzo
http://texwiller.blog.com/. Vi aspettiamo numerosi!

Nasceu o primeiro blogue português sobre Tex
Caros Amigos, nasceu o primeiro blogue português sobre o nosso amado ranger, no endereço
http://texwiller.blog.com/. Esperamos por muitos de vós!

Póster Tex Nuova Ristampa 15

Claudio Villa mostra-nos neste desenho, Tex Willer sendo surpreendido na época da Guerra Civil Americana, por um oficial do Exército Sulista (Confederado) que de pistola na mão, tenta com que Tex não tenha tempo de reagir.

Desenho usado no Brasil como capa de Tex Edição Histórica #17 e inspirado na história, “La traccia di sangue” de G. L. Bonelli e Galleppini (Tex italiano #24).
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Texto de José Carlos Francisco
Portugal em destaque no editorial de Tutto Tex 395

Pela primeira vez, Sergio Bonelli, dedicou um editorial de uma edição italiana de Tex, a Portugal, mais precisamente para falar da trajectória do Tex no nosso país. Tal aconteceu na edição #395 de Tutto Tex, de Fevereiro de 2004.

Caro Sergio,
por que você não fala com mais frequência das edições estrangeiras de Tex e dos quadradinhos bonellianos em geral? Em Dezembro, por exemplo, estive em Portugal a trabalho, e senti uma grande emoção ao ver numa banca algumas revistas do Ranger… Há quanto tempo eles desembarcaram no País de Fernando Pessoa, meu escritor preferido?“. Para responder a esta pergunta, que me foi enviada por um leitor romano, que assina simplesmente Lorenzo, pedi ajuda a um amigo, que também é um super conhecedor de quadradinhos. O seu nome é José Carlos Pereira Francisco, e vive justamente em Portugal. Com prazer, deixo a ele a palavra!
Assim como na Itália e no Brasil“, diz José Carlos, “também em Portugal a mais popular personagem dos quadradinhos italianos é justamente Tex Willer que, depois de alguns anos de ausência, voltou às nossas bancas, retomando o contacto que, há mais de trinta anos, os leitores tinham com ele. Graças à brasileira Mythos Editora, agora estão presentes em Portugal - em versão brasileira - Zagor, Mister No, Mágico Vento, Nick Raider, Dylan Dog, Martin Mystère e Ken Parker, além de oito séries (entre inéditas e reedições, almanaques e especiais) dedicadas a Águia da Noite. Ainda que pequeno em relação ao italiano, o mercado português de quadradinhos é constituído por leitores fiéis, entusiastas e pacientes, pois têm que esperar que as suas revistas preferidas venham do outro lado do Oceano, do Brasil. De facto, Tex nunca foi publicado por uma Editora portuguesa; a única excepção, no campo bonelliano, foram dezasseis edições de Zagor e doze de Mister No, lançadas a partir de 1978, sem a autorização da sua Editora. De 1971 a 1999, quando, das edições da Via Buonarroti em Portugal, só havia Tex, as revistas só chegavam depois de seis/nove meses do lançamento no Brasil. Se o editor brasileiro não tinha mais edições disponíveis nos seus depósitos, alguns números não eram enviados, e nem os pedidos de edições atrasadas eram atendidos.
Tudo se interrompeu em 1999, quando a Editora Globo suspendeu a publicação de Tex; mas em 2002, quando os direitos dos seus personagens já eram da Mythos, Tex e Cia desembarcaram de novo, e com sucesso, em terras lusitanas. Hoje, o intervalo entre o lançamento no Brasil e o ‘desembarque’ em Portugal varia de quatro a seis meses. Esta nova proposta dos quadradinhos Bonelli foi bem aceite tanto pela imprensa, que fala frequentemente do assunto nas suas rubricas especializadas, quanto por aqueles que discutem a ‘banda desenhada’ (é como são chamados por aqui os quadradinhos) nos vários fóruns da internet“.
Espero ter esclarecido a sua curiosidade, caro Lorenzo. E, para deixar mais completo o “relato” do informadíssimo amigo Pereira Francisco, quero mostrar a você e a todos os outros aficcionados a capa de uma edição “made in Brasil” que atingiu uma marca realmente importante.
Trata-se do número 200 de Tex Coleção (corresponde ligeiramente ao nosso Tutto Tex), publicado em Setembro de 2003; junto a uma história clássica escrita por Gianluigi Bonelli e ilustrada por Giovanni Ticci, são apresentadas todas as capas da série, em 24 páginas coloridas.
Sergio Bonelli.

Póster Tex Nuova Ristampa 14

Neste desenho da autoria de Claudio Villa, vemos Tex Willer com o seu fiel cavalo Dinamite a seu lado, surpreso defronte de uma enorme cruz de madeira, colocada pelos encapuzados Danitas junto ao abandonado povoado de Arrow Springs, onde se encontra pendurado pelos braços na cruz trágica, o cidadão Ted Sinner, já morto, devido a chicotadas recebidas.

Desenho usado no Brasil como capa de Tex Edição Histórica #16 e inspirado na história, “La croce tragica” de G. L. Bonelli e Galleppini (Tex italiano #22 e #23).
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Texto de José Carlos Francisco
Jesús Blasco: O Mestre dos Mestres

É difícil determinar qual pode ser a imagem que o leitor médio de banda desenhada em Espanha, pode ter neste momento de um autor como Jesús Blasco. Se esta mesma pergunta fosse colocada há alguns anos, não havia dúvida alguma da resposta: Blasco era reconhecido como o Mestre dos Mestres. Duvidamos muito que esta seja a interpretação actual, sobretudo pela falta de memória histórica que sempre caracterizaram osnuestros hermanos.


Jesús Blasco Monterde nasce em Barcelona em 1919 e falece nessa mesma cidade em 1995. Irmão mais velho dos também desenhadores Adriano,Alejandro e Pilar, Jesús começa a sua carreira no mundo da banda desenhada com apenas 15 anos na revista Mickey e já em 1935 cria Cuto, o seu personagem mais emblemático e todo um mito da banda desenhada espanhola dos anos pós-guerra. Pese o facto de ter sido criado em outra publicação, Cuto foi popularizado na revista Chicos, da qual se converteu em um autêntico estandarte. A série que beneficiava do elegante estilo do desenho do seu autor, foi um passo adiante na exploração dos quadradinhos de aventuras. Blasco consegue com o seu trabalho em séries de colecções comoTragedia en Oriente ou En los dominios de los Sioux construir uma série de narrativas que, por serem de uma temática de aventuras, não estavam destinadas somente a um público infantil ou juvenil.

Durante as décadas de 60 e 70 Blasco centra uma boa parte da sua produção nos mercados estrangeiros; assim a partir de 1964, para o mercado britânico realizará, com argumento de Tom Tully, a série Zarpa de Acero que se converte em outro dos seus trabalhos mais conhecidos. Uns anos mais tardeJesús cria Los Guerrilleros, série com ambiente de western escrita em colaboração com Miguel Cusso, e com a qual se encerra, o que poderíamos chamar o triunvirato dos seus trabalhos mais célebres. Sem embargo, a sua imensa capacidade de trabalho, unida ao facto que muitas das suas obras foram realizadas em colaboração com os seus irmãos, fazer uma mera enumeração dos seus trabalhos seria uma tarefa árdua. Não é de estranhar que se possa encontrar a sua assinatura desde uma versão em banda desenhada da Bíblia realizada para o mercado francês, até ao número um do semanário britânico 2000AD – ilustrando a série Invasión – passando pelas diferentes revistas da Warren norte-americana; ou que em França o nomeassemCaballero de las Artes y de las Letras.

A sua participação no relançamento de Capitán Trueno levado a cabo a partir de 1986 e o seu labor na série Tex, confirmam as duas grandes vertentes em que se dividiu o trabalho de Jesús Blasco nos seus últimos anos de carreira. Uma carreira em que demonstrou sempre ser um desenhador elegante, com um traço preciso com o pincel; um ilustrador aparentemente clássico, mas com uma narrativa e uma montagem eminentemente modernas que serviram de referência para os autores que se lhe seguiram
em Tex. Inclusive um desenhador com uma trajectória tão extensa, como é o caso de José Ortiz mencionava no início do seu trabalho em Tex que um dos motivos porque havia aceite o convite era poder trabalhar na mesma personagem em que havia trabalhado o seu Mestre Jesús Blasco.

O episódio 307 de Tex, editado na Itália em Maio de 1986 traz a estreia deBlasco na série, tornando-se desse modo no primeiro de uma série de excelentes artificies que incrementaram a fila de desenhadores de Tex. A sua primeira história, Delitto al Morning Star, tal como as restantes, excepto a última, foi escrita por Claudio Nizzi e trata-se de uma história de intriga: um detective da Pinkerton, que está a trabalhar incógnito como jornalista é assassinado. O detective que se encontrava a investigar algo referente a um misterioso bando denominado como A Mão Vermelha, deixa uma nota para Tex, embora este não o conhecesse. Quem Tex conhece, é o mencionado bando, com quem no passado já tinha se confrontado; se bem que não sabe quem é a personagem que dirige o bando e que tem um interesse especial em liquidá-lo.

La Banda de Border, segunda aventura ilustrada por Blasco e publicada nos números 326 a 328, começa quando a Pinkerton se põe de novo em contacto com Tex e Carson para solicitar a ajuda de ambos. Nesta ocasião trata-se de desarticular um bando de ladrões de trens que pese o álibi de ex-combatentes sulistas fazendo algo de justo se mostram mais interessados nos proveitos económicos que em algum tipo de reivindicação política. Tanto esta história como a anterior são paraBlasco o seu primeiro contacto com a série e servem sobretudo para ir fazendo uma rodagem para se identificar mais com os personagens e cenários. Assim será a partir da terceira história que começará a dar provas do seu grande talento. Fiamme sul Mississippi abarca as edições 351 a 353 e traz-nos de novo a Pinkerton pedindo auxílio a Carson e Tex. Em concreto trata-se de enfrentar um bando de piratas que se dedicam a assaltar barcos fluviais e que assina os seus golpes com uma carta com o desenho de uma caveira. Especialmente em destaque nesta história, são as diferentes imagens dos barcos, incluindo um em especial que o bando utiliza como base de operações, que Blasco desenha com uma singular elegância.

Rio Concho, quarta história de Blasco, aparece nas edições 369 a 371. O argumento gira em torno de uma investigação que Tex e Carson levam a cabo sobre uns estranhos ladrões de gado, que em vez de levarem as reses, fazem com que se despenhem por um barranco tentando não deixar pistas. De novo,Nizzi constrói um argumento em que os protagonistas devem dar cabo da cabeça para saberem o que está a acontecer, antes de poderem actuar para solucionar o caso. Os números 397 a 399 trazem o final da ligação Nizzi-Blasco: La citta della paura é uma história clássica de desafio do cowboy com o chefe local que tem atemorizado toda a população de uma cidade, depois de Carson e Tex receberem um pedido de ajuda de um xerife amigo que tenta manter a ordem na cidade de Topeka. A colaboração de Jesús Blasco em Tex conclui em meados de 1994 com Bande rivale, aventura publicada nos números 403 a 405, escrita por Michele Medda. A história apresenta a actuação de dois bandos distintos de delinquentes, em meio dos quais Carson e Tex se encontram quando por encargo da Pinkerton, de queBlasco já devia fazer parte por esta altura, tratam de resolver o sequestro de um jornalista, filho de um governador.

Se alguém perguntar o que trouxe Jesús Blasco a Tex, a melhor resposta, seria a elegância; ao menos é este o adjectivo escrito em maior número nestas linhas. É inegável que os seus desenhos já não eram tão dinâmicos e já lhe custava algum trabalho desenvolver as sequências de acção. Somente para poder desfrutar uma vez mais da mestria com o pincel de Jesús, vale a pena contemplar com atenção cada uma das suas páginas de Tex. A diferença da regra habitual dos desenhadores que fizeram a série no decorrer dos anos, que foi a de se incorporarem na série na primeira fase das suas carreiras de desenhadores, Blasco chegou quando já era um desenhador veterano e com um estilo já formado. E de facto, esse mesmo estilo era um dos mais distanciados dos modelos tradicionais que se deram à colecção, o que não o impediu que se soubesse adaptar ao modelo narrativo da série. Inclusive pode dizer-se que Blasco era um desenhador que casava bastante bem com o estilo de Nizzi: um argumentista de ritmo lento, que gosta de utilizar muitos tempos médios, com grandes sequências dialogadas. E é precisamente nessas sequências onde Blasco conseguia os seus melhores resultados, mediante uma profusa utilização de primeiros planos das personagens que sabia desenhar de maneira impecável.

Várias são as obras pelas quais os a ficcionados recordam sempre de Jesús Blasco, mas o seu trabalho em Tex constitui sem dúvida um testamento artístico à altura do que ele foi: um dos maiores desenhadores que a banda desenhada espanhola deu em toda a sua história.

Texto de José Carlos Francisco, baseado no livro-catálogo “Tex Habla Español”.

Póster Tex Nuova Ristampa 13

Desenho de Claudio Villa onde vemos Tex Willer numa posição bastante incómoda, agarrado desesperadamente com uma mão a um arbusto ressequido numa parede rochosa, enquanto luta selvaticamente para se tentar livrar por todos os meios de um índio da seita dos Filhos do Sol, que agarrado a ele, o quer lançar rumo ao abismo para uma morte terrível.

Desenho usado no Brasil como capa de Tex Edição Histórica #15 e inspirado na história, “Il mistero delle montagne Lucenti” de G. L. Bonelli e Galleppini com a colaboração de Mario Uggeri (Tex italiano #21 e #22).
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Texto de José Carlos Francisco
Tex Série Normal: Os Invencíveis

Argumento de Mauro Boselli, desenhos de Raffaele Carlo Marcello e capa de Claudio Villa. Com o título original Gli Invincibili, a história foi publicada em Itália nos nº 438 a 440 e no Brasil pela Editora Globo e pela Mythos Editora nos nº 350 a 353.

Um grupo de irlandeses, soldados sulistas durante a Guerra da Secessão, anda a realizar assaltos no Texas e no México. Antigos revolucionários do IRA (Exército Republicano Irlandês), praticam os assaltos com o objectivo de financiar a causa pela independência da Irlanda. Tex é chamado para descobrir o paradeiro deste grupo e tentar alcançar um acordo, tendo como objectivo o seu regresso aos EUA, reabilitando-os dos crimes que cometeram. O ranger conhece alguns dos irlandeses e vai tentar a via legal e pessoal para os convencer a regressar.

O que existe em comum entre o IRA, o Imperador Maximiliano de Áustria ou o Presidente Juarez do México? Uma louca e épica aventura texiana que junta os quatro pards por terras mexicanas. Boselli revive todos os mitos e elementos texianos, tal como Bonelli os soube sempre construir. Elementos históricos, um passado carregado de simbolismo, amizade, lealdade, espionagem, caça ao tesouro, acção, e um Tex como nós nos habituámos a gostar.

O elemento histórico está bem patente com o recurso à luta pela independência irlandesa como fio condutor de todo o argumento, uma espécie de leitmotiv agregador da trama, tendo como pano de fundo um México caracterizado pela luta pelo poder entre o Imperador Maximiliano e o Presidente Juarez.

Boselli revive ainda um certo passado de Tex, mergulhando o leitor em plena época onde o ranger actual não passava de um fora-da-lei que até teve necessidade de atravessar a fronteira com o México para não cair nas garras da justiça.

Depois, existe uma amizade latente entre Tex e alguns elementos do bando, nomeadamente com Hutch, que de certo modo vai permitir com que Tex acompanhe o grupo na caça ao tesouro, porque o ranger acredita poder convencer os irlandeses de que a melhor maneira de servir uma revolução e os seus ideais é estar do lado da lei. Boselli transmite aqui uma certa ideia de romantismo, um sentimento forte tão ao seu gosto. Porque esta ideia de romantismo é outro elemento sempre presente, não um romantismo de uma época bem precisa, não o romantismo de um grupo ou de homens que se julgam invencíveis, mas um romantismo de uma luta, de uma causa, de um ideal, de um acreditar algo, de um altruísmo. Boselli nunca é inocente ao longo do argumento, o autor escolhe sempre um caminho e não o renega perante o leitor, transparecendo esta ideia no modo como construiu a personagem de Shane O’Donnel, alguém para quem o ideal revolucionário está sempre presente, existindo sempre causas pelas quais há que lutar.


Todas as personagens são fortes, têm o seu próprio carácter bem vincado e uma psicologia bem presente: Halloran é pragmático, Kelly é nostálgico, Hutch sofre por Dolores e vai mudando os seus sentimentos para com Tex, Shane tem tanto de fanático como de idealista ou generoso, é alguém muito seguro de si. As personagens
são verdadeiras e plenas de sentimentos, como pátria, amor, amizade, ódio e vingança. E a servir tudo, Boselli constrói um ataque final ao forte de Carrasco pleno de uma literal e puríssima acção, tudo em crescendo dramático até que a pólvora se cale e a poeira assente.
Mais do que tratar de uma história de um grupo de invencíveis, Boselli demonstra simplesmente que os ideais é que são invencíveis e que a tudo se sobrepõem. Marcello denota uma certa característica épica bem presente no seu traço, um senso do movimento onde transpira poeira, sangue, suor e porque não também lágrimas. Os seu planos nunca são estanques e o seu traço, sem o detalhe de artistas como Villa ou Civitelli, atinge uma dimensão própria, um envolvimento natural com o leitor, convidando-o a permanecer sempre presente e atento na leitura. Marcello desenhou eventualmente algumas das melhores histórias texianas, mas a verdade é que o seu traço também contribuiu para deixar no leitor um sentimento de velho oeste, de um oeste carregado de simbolismos, de um oeste, afinal, invencível no nosso imaginário.

Póster Tex Nuova Ristampa 12

Neste desenho da autoria de Claudio Villa, vemos Tex carregando decidamente às costas, no meio de um pavoroso incêndio ocorrido no hotel El Dorado, o desmaiado Tenente Oklei do serviço de informações do exército confederado, ferido devido a uma bala que perfurou o seu pulmão direito, para desse modo levá-lo até um médico e assim salvar a vida do Tenente, uma vez que o hotel estava completamente cercado por Rackam e seus comparsas e debaixo de cerrado tiroteio.

Desenho usado no Brasil como capa de Tex Edição Histórica #14 e inspirado na história, “Pista di morte” de G. L. Bonelli e Galleppini com a colaboração de Francesco Gamba (Tex italiano #20 e #21).
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Texto de José Carlos Francisco
Póster Tex Nuova Ristampa 11
Desenho da autoria de Claudio Villa, em que se vê surgir por uma porta,Carol Horton, fingindo ser um fantasma, numa dramática sequência de Bonelli e Galep, perante Tex e Kit Willer, para desse modo poder desmascarar o mexicano Pablo Valverde, irmão da pérfida Rosita Valverde, que tinha tentado assassiná-la, atirando-a para o poço de uma mina.
Desenho usado no Brasil como capa de Tex Edição Histórica #13 e inspirado na história, “Impronte misteriose” de G. L. Bonelli e Galleppini (Tex italiano #19 e #20).
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Texto de José Carlos Francisco
A LONGA CAVALGADA DE TEX, o ranger sem fronteiras

A PERSONAGEM

Tex é uma personagem de Banda Desenhada, criada em 1948, pela dupla Giovanni Luigi Bonelli e Aurelio Galleppini na Itália, sendo hoje em dia uma das personagens de western, com maior longevidade na história da Banda Desenhada a nível mundial, sendo editado em diversos países do mundo, inclusive no nosso país, onde teve uma edição especial totalmente produzida em Portugal, que circulou junto ao jornal Correio da Manhã, no domingo 14 de Agosto de 2005, integrado na colecção da Série Ouro, Os Clássicos da Banda Desenhada.
Tex nasce por vontade de uma jovem empreendedora, a senhora Tea Bonelli (1911-1999), que no imediato pós-guerra havia herdado do ex-marido Gianluigi Bonelli a propriedade da pequena editora Audace. Em 1948, ao pretender modificar a sua linha editorial, criando novas séries e parando com as meras reimpressões de histórias antigas, que já haviam esgotado o seu público, chama a Milão o desenhador Aurelio Galleppini e convidou-o para desenhar um novo herói que fizesse par com o velho Furio, personagem de ponta, até aquele momento, do título “L’Audace” e confia os textos ao seu ex-marido, G.L. Bonelli, notável argumentista. Juntos, ambos criam Tex, um western como muitos que se faziam naqueles tempos, mas que estava fadado ao sucesso.

Inicialmente o nome escolhido foi Tex Killer, porém, o nome Killer, que em inglês significa assassino, não agradava à senhora Tea Bonelli, que decide, então, substituir o K por um W. Já graficamente, Tex quanto ao rosto, era uma mescla de Gary Cooper e do próprio Galleppini.
E foi no dia 30 de Setembro de 1948 que surgiu a primeira história de Tex. Chamava-se “Il Totem Misterioso” e já no primeiro quadradinho vemo-lo decidido, pistola em punho: “Por todos os diabos, será que ainda estão nas minhas costas?”. Começava assim a saga de um dos mais famosos cowboys da Banda Desenhada.
No começo, as histórias eram publicadas no formato de tiras com o máximo de 3 quadradinhos. Cada semana saía nos jornais italianos uma tira, obrigando os leitores a comprar a próxima edição para chegar ao fim da aventura, o que acontecia após 32 páginas, ou 96 tiras. Essa estratégia culminou num sucesso incrível na Itália e o que inicialmente era para ser apenas mais uma personagem entre tantas outras que apareciam naquela época, o ranger fez tanto sucesso que e editora decidiu pela publicação de uma revista. As tiras foram todas compiladas, sendo que em cada página da revista havia no máximo 3 tiras, como nos dias de hoje. Apesar de o público em geral poder considerar as histórias pouco apelativas devido ao facto do seu grafismo ser a preto e branco, os admiradores das aventuras de Tex salientam a riqueza de informações, referências e verosimilhança histórica.

Além de muita acção em todas histórias, com chumbo grosso a voar por todos os lados, o que torna a leitura interessante é o conhecimento que as histórias trazem. O leitor fica inteirado da cultura dos índios, da vida dos pioneiros, de episódios marcantes e reais na história dos Estados Unidos da América, dos hábitos da época… Detalhes mínimos foram pesquisados antes de se tornarem texto e desenhos, para que o leitor tivesse a noção exacta do ambiente em que se passavam as aventuras. Tex pretendia aliar cultura e diversão e isso pode justificar o seu sucesso em muitos países do mundo.

A HISTÓRIA

Outro factor decisivo para o sucesso é o bom humor, quase sempre presente nas histórias. A comédia acontece principalmente quando Kit Carson, o parceiro de Tex, começa com a sua onda de pessimismo e reclamações, mas não há dúvida que o principal motivo que faz de Tex um sucesso é a acção constante das aventuras e o seu senso de justiça. Tex é um atirador preciso tanto com a espingarda como com a pistola e não nega ajuda a quem quer que seja para combater injustiças. Também é um óptimo cavaleiro e sabe usar muito bem a faca e o laço. Além disso, Tex também é um lutador exímio em diversas modalidades.
Tex fascina logo no primeiro contacto por ser uma personagem com carácter humanitário que, embora vivendo num ambiente hostil e selvagem, sempre luta para fazer triunfar a justiça.

Diferente dos heróis da época, Tex é um homem duro. Sem hesitações, julgando as pessoas com um único olhar, não é uma personagem destinada às crianças, mas a um público mais maduro. A linguagem de Tex é também bastante dura e violenta e mostra-nos um Tex mais “vil” que o dos dias de hoje. Na realidade, Tex é um justiceiro decidido, capaz de agir fora da lei se a situação assim o exigir.

Tex é um Ranger do Texas, é o representante da lei em qualquer lugar do Estado por onde passa. Além disso é o chefe dos Navajos com o nome de Águia da Noite, bem como seu agente indígena. Enfim, um homem temido e respeitado, no Oeste tido como uma lenda e que é também um defensor dos injustiçados, quer sejam eles índios ou brancos.

Apesar de no primeiro número da versão original G.L. Bonelli fazer referência a 1898, e poucas edições depois falar da Guerra de Secessão (1860/1865), prova que na verdade, no início a documentação era praticamente inexistente e o autor escrevia sem muito rigor. Assim, relegando os primeiros álbuns que não são confiáveis para a cronologia de Tex, podemos datar as aventuras de Tex quando jovem por volta de 1860, pois é nesse período que o vemos no rodeio e durante a Guerra Civil Americana. Já o Tex quarentão e com o filho Kit Willer, bem como com Kit Carson de cabelos brancos, remonta ao período de 1880-1890 e tem o seu principal campo de actuação, o sudoeste americano, com os seus desertos ardentes e pequenos povoados de homens brancos.

Entretanto, nestes mais de 50 anos de vida editorial, devido à sua bravura e perícia, Tex por vezes é requisitado pelo comando dos Rangers a actuar em missões delicadas e especiais mesmo em outros estados americanos, casos de cidades como São Francisco, New Orleans, Washington, ou mesmo fora dos limites territoriais dos EUA, percorrendo vários países e um sem número de povoados espalhados desde as terras geladas do Canadá e do Alasca até aos territórios mexicanos ou em casos extremos, na América do Sul e até mesmo na Oceânia, atrás de índios, traficantes, militares, políticos influentes, assaltantes e até mesmo mágicos, feiticeiros poderosos e extraterrestres, sempre com o western como pano de fundo nas mais diversas missões, desde contrabandos de armas, assaltos a trens ou bancos, roubo de manadas inteiras, xerifes abusando da sua posição para explorar o povo são apenas casos mais comuns, dentre tantos que Tex tem que enfrentar.
Para isso, ele conta com a ajuda de seus pards (parceiros): Kit Carson, Kit Willer e o índio navajo Jack Tigre.

OS PARCEIROS

Tex, a personagem principal, entre os índios conhecido como Águia da Noite; Kit Carson, o Ranger resmungão conhecido como Cabelos de Prata; Jack Tigre, o índio navajo que conhece todos os truques e tácticas indígenas; e Kit Willer, o jovem filho de Tex conhecido como Pequeno Falcão.

Na maioria das aventuras o companheiro inseparável é mesmo o Ranger Kit Carson, que já salvou a vida de Tex inúmeras vezes, sendo também salvo por este em outras tantas. Pequeno Falcão e Jack Tigre são os pards que mais tempo ficam na aldeia navajo, cuidando dos interesses da reserva e zelando pela paz entre os indígenas e os homens brancos, mas não raramente são chamados por Tex para ajudar a resolver os casos mais árduos.

Numa série tão longa, Tex fez no decurso das aventuras, grandes amizades nas mais diversas cidades americanas ou mesmo em outros países. Em São Francisco, o chefe da polícia Tom Devlin. Aqui e ali o desajeitado gigante Pat Mac Ryan, sempre em situações complicadas. Entre os Apaches, o irmão de sangue Cochise, chefe de todas as tribos apaches. E muitos outros, como o xerife de New Orleans, Nat Mac Kenneth, ou ainda Mac Parland, da Pinkerton.

No México, Montales, sempre envolvido nos cíclicos golpes de estado locais, e El Morisco, também conhecido como Bruxo Mouro, curandeiro, cientista e dedicado à “magia branca” nas horas vagas. No Canadá, Jim Brandon, oficial da Polícia Montada, e Gros Jean, trapper jovial e irascível, envolvido em mil problemas. Já em relação aos seus inimigos, Mefisto e o seu filho Yama, mestres da magia, foram os que mais fizeram Tex suar para conseguir derrotá-los. Podemos citar também: o diabólico Proteus, o bandido transformista capaz de se disfarçar de qualquer pessoa; a bruxa Zhenda, ex-squaw de Flecha Vermelha; Paul Balder, denominado “El Carnicero”, o coleccionador de escalpes; o genial cientista denominado O Mestre, o malaio Tigre Negro… E ainda há aqueles que se destacaram de modo particular, mesmo aparecendo numa única aventura, entre eles: o homem de quatro dedos, o apache Lucero, ou o mestiço Ruby Scott, o único que conseguiu vencer Tex num duelo. Deve-se dizer, porém, que Ruby utilizava um coldre especial que lhe permitia usar o colt sem sacar, fazendo o próprio coldre girar sobre um pino central.

AUTORES

Tex como foi dito anteriormente, foi criado pelo escritor Giovanni Luigi Bonelli e pelo desenhador Aurelio Galleppini, também conhecido como Galep.

Giovani Luigi Bonelli nasceu em Milão em 22 de Dezembro de 1908. Começou a escrever profissionalmente na década de de 30, para o Corriere Dei Piccoli. Faleceu em 12 de Janeiro de 2001.

Aurelio Gallepini nasceu em 28 de Agosto de 1917, em Casal di Pari, tendo falecido em 10 de Março de 1994, tendo feito mais de 18000 pranchas e todas as capas de Tex até o número 400.

Com o sucesso da personagem e com o passar dos anos, vários artistas foram se unindo aos dois pioneiros. Os primeiros desenhadores foram Francesco Gamba, Mario Uggeri, Guido Zamperoni e Lino Jeva. Mais tarde, com o aumento da produção passaram a integrar a equipa de desenhadores do staff, Virgilio Muzzi, Guglielmo Letteri, Giovanni Ticci, Erio Nicoló, Fernando Fusco, Vitor de la Fuente, Jesus Blasco, José Ortiz, Carlo Raffaele Marcello, Vincenzo Monti, Fabio Civitelli, Alberto Giolitti, Claudio Villa, Raffaele Della Monica, Aldo Capitanio, Alfonso Font, entre outros. Sem contar os convidados para fazer as edições especiais gigantes, alguns dos grandes nomes mundiais da nona arte, casos de Joe Kubert, Colin Wilson, Jordi Bernet, Guido Buzzelli. Magnus, Ivo Milazzo e Manfred Sommer, só para dar alguns exemplos.

A equipa de escritores também teve que ser aumentada. Mauro Boselli, Guido Nollita (Sergio Bonelli), Decio Canzio, Antonio Segura, Michele Medda, Gianfranco Manfredi, Giancarlo Berardi, foram dos que escreveram também histórias de Tex no decurso destes mais de 50 anos, coabitando com outro grande argumentista, Claudio Nizzi que é considerado o “herdeiro” de G. L. Bonelli. Nascido em 1938 em Setif, na Argélia, começou a escrever Tex em 1981 e ainda hoje é o principal escritor de Tex.

EM PORTUGAL

A longa cavalgada de Tex, o ranger sem fronteiras, à volta do mundo continua e no passado mês de Agosto, Tex “nasceu” em mais um país! Após mais de 30 anos sendo distribuído em Portugal com o selo de editoras do Brasil, pela primeira vez na história, uma edição de Tex foi editada em Portugal.

De facto, Tex algo incompreensivelmente nunca tinha sido publicado por uma editora portuguesa, apesar de Tex já ser conhecido neste pequeno país há beira-mar plantado, há mais de três décadas.
Isto porque ainda que pequeno em relação ao italiano, ou ao brasileiro (em Portugal a mais popular personagem dos quadradinhos italianos é justamente Tex Willer), o mercado português de Banda Desenhada é constituído por leitores fiéis, entusiastas e pacientes, pois têm que esperar que seus Tex’s venham do outro lado do Oceano, mais precisamente do Brasil isto porque Tex apareceu pela primeira vez em Portugal no final de 1971, editado pela Editora Vecchi, do Brasil. Tratava-se do número 1, com formato idêntico ao italiano e trazia o preço de capa de 10$00. Esse formato foi alterado pela editora em 1974, a partir do número 38, diminuindo as medidas para 13,5 x 17,5, formato que ainda se mantém hoje.

Actualmente, depois de ter sido editado no Brasil, também durante alguns anos, pela Rio Gráfica Editora e pela Editora Globo, Tex é editado pela editora da fogueirinha, a Mythos Editora que promoveu o regresso de Tex a Portugal, após quase 3 anos de ausência nas bancas portuguesas e que acumula uma série de feitos, junto dos coleccionadores portugueses, enviando para cá um festival de edições especiais e novas séries como: Tex Gigante, Almanaque Tex, Tex Anual, Tex Ouro, Tex Férias e Mini-Séries, num padrão que nenhuma editora anterior tinha conseguido dar no passado, a que correspondem boas vendas, sinal de que Tex continua a seduzir e encantar os leitores da terra que viu nascer o grande poeta Luís Vaz de Camões, criador da imortal obra “Os Lusíadas”!

Mas voltando à trajectória de Tex no nosso país, a vida dos coleccionadores portugueses sempre foi muito difícil, pois continuamente estiveram dependentes da vontade das editoras brasileiras, além de que as revistas chegavam a Portugal sempre com seis a nove meses de atraso e algumas delas em mau estado de conservação, devido a serem sobras recolhidas das edições postas à venda no Brasil. Mas o pior é que algumas vezes as editoras brasileiras “esqueciam-se” de enviar alguns números para Portugal e os leitores lusos ficavam privados de algumas histórias.

Este foi sempre um problema grave que sucedeu algumas vezes durante a trajectória de Tex em Portugal (e com todas as editoras brasileiras), tratando os leitores portugueses de uma forma que eles não mereciam, já que sempre se mantiveram fieis à compra das edições. Para piorar a situação, tanto a editora Vecchi, como a Rio Gráfica/Globo nunca atendiam o pedidos dos coleccionadores lusos de enviar pelo correio as revistas que não vinham para Portugal, ao contrário da Mythos Editora que, nesse aspecto, foi muito benévola e profissional, compreendendo os anseios dos fãs portugueses. Apesar de todos estes obstáculos, graças ao empenho, persistência, dedicação e paixão, existem coleccionadores em Portugal com toda a colecção brasileira de Tex e inclusive alguns com a colecção italiana!
Actualmente, os leitores portugueses amantes da boa Banda Desenhada italiana, sobretudo, os “Texianos” estão imensamente satisfeitos e felizes por ter tanta e tão boa Banda Desenhada da Sérgio Bonelli Editore entre nós e o recente Tex português, foi a cereja no topo do bolo…


Nova colecção de Tex na Itália

No mês de Fevereiro de 2007, numa iniciativa conjunta dos periódicos italianos La Repubblica e L’Espresso com a Sergio Bonelli Editore, S. p. A. nascerá uma nova colecção de Tex na Itália.

Trata-se de uma colecção em grande formato (provavelmente no estilo “Clássicos da Banda Desenhada, Série Ouro” ou então edições cartonadas), num total de 50 volumes, que reeditarão as primeiras histórias clássicas de Tex Willer, edições totalmente a cores e com capas inéditas de Claudio Villa. Os volumes para além das histórias trarão artigos do crítico Luca Raffaeli e editoriais de Sergio Bonelli.

O primeiro número que será oferecido a quem comprar um dos periódicos italianos Repubblica ouL’Espresso, cujo desenho de capa inédito e feito propositadamente para esta colecção o blogue português do Tex, mostra em exclusivo mundial, tanto na versão a preto e branco, como já na versão colorida pelo desenhador Claudio Villa, desenhos que o bloguista José Carlos Francisco teve o privilégio de ver e tocar, trará a aventura de Tex “Il totem misterioso“, cuja capa traz um Tex jovem, no estilo “Galleppiano”, desenhada pelo Claudio Villa como já dissemos, pode ser vista com maiores pormenores clicando nas fotos, para aproveitar a extensão completa de cada foto.

Nos números seguintes vão seguir-se outras aventuras clássicas do ranger, sempre a cores, em grande formato e com capas inéditas.

Na foto da esquerda para a direita: Moreno Burattini, José Carlos Francisco, Claudio Villa e Dorival Vitor Lopes

DVD do filme de Tex

Na Itália está a ser lançada pela empresaHobby&Work uma nova colecção de DVD’s dedicada ao “spaghetti western” e o DVD número 6 será dedicado ao ranger Tex Willer e ao seu filme “Tex e il signore degli abissi“.
A Hobby & Work apresenta nesta colecção quinzenal, alguns dos filmes mais famosos que permitiram que o género western renascesse na Itália: de Tomas Milian a Terence Hill, Tonino Valeri a Duccio Tessari, passando por Giuliano Gemma, o “Tex Willer“… uma colecção imperdível para todos os apaixonados do grande western à italiana.

O primeiro número desta colecção é ”
Django” de Alberto De Martino e tem um custo de 5,90 €. O número 2 é o filme ”O Cangaceiro” e terá um custo de 7,90 €, tal como os restantes filmes.

Finalmente em DVD o filme de Tex Willer, integrado numa colecção de filmes que marcaram uma época de grande sucesso para o cinema italiano.
Tex Série Normal: Os Sete Assassinos
Argumento de Mauro Boselli, desenhos de Raffaele Carlo Marcello e capas de Claudio Villa. Com o título original I sette assassini, a história foi publicada em Itália nos nº 463 a 465 e no Brasil pela Mythos Editora nos nº 378 a 381.
Um bando de sete criminosos chefiados por Jack Thunder, um cego louco, anda de cidade em cidade a saquear bancos e a deixar atrás de si um rasto de sangue e destruição, cometendo assassinatos frios e impiedosos. Enquanto isso, Tex, Carson, Kit e Tigre, que estão no encalço de um ladrão de cavalos, chegam a Heaven, uma pequena cidade onde Lenna Parker e a sua filha Donna abriram uma estalagem, graças a parte do dinheiro roubado outrora pelo bando dos Inocentes, do qual fazia parte Ray Clemmons, o pai de Donna. Dinheiro esse que Jack Thunder também pretende saquear.
Esta é uma aventura violenta nos variados sentidos que a queiramos interpretar. Violenta no rasto de destruição que vai deixando ao longo das suas mais de trezentas páginas, violenta também na forma abusiva como Jack Thunder guia a sua conduta, marcada por uma certa religiosidade, porquanto para este psicopata toda a sua acção acaba por ser justificada por preceitos religiosos e a que não é alheio o facto de apelidar o seu bando de família. Violenta ainda nas contradições surgidas da própria aventura, primeiro com o elemento fogo sempre presente na acção destrutiva de Thunder, mas que aqui surge mais identificado a limpeza e purificação das almas, depois o inferno onde tudo acaba por acontecer (Heaven), que tem tudo menos de paraíso. Finalmente, e apesar de toda esta violência, a aventura não renega a sua veia romântica, patente não só no romance entre Donna e Kit e mais tarde com Kid Rodelo, também na atracção sentida entre Carson e Lenna, porque não ainda no comportamento dos irmãos Lane, mas sobretudo em toda a atmosfera em redor da estalagem.
Toda a estrutura de Boselli é notável, onde desenho e diálogo aliam-se numa acção narrativa verdadeiramente cinematográfica. Boselli consegue sempre alternar cenários e situações sem que a estrutura narrativa se ressinta. Porque se trata de um autor habituado a apresentar os elementos da trama, desenvolvendo-os sempre sucessivamente com o auxílio de construções psicológicas, que o autor privilegia, logrando construir personagens ricas, densas e poucas vezes maniqueístas. Cada elemento do bando dos sete assassinos tem o seu próprio perfil, moldado por um passado determinante na sua conduta e é curiosa a forma como Boselli coloca em cada um dos assassinos uma característica particular: Jack Thunder é cego mas possui ouvidos extremamente acutilantes, Monk utiliza uma metralhadora, Kid Rodelo esconde por trás da sua cara de anjo um verdadeiro pistoleiro, Firewolf é um índio pirómano, Lizard treinou dois cães para atacar qualquer presa, Hammer é um negro gigante que usa um martelo para os seus fins, enquanto que No-Face apenas emite grunhidos e usa o punhal como poucos. Mas a aventura também é feita de outras personagens como o padre Sheridan, Higgins, o atormentado Latimer, a senhora Philips ou ainda os simpáticos Jim Lane e o seu irmão Bronco, construções “bosellianas” que denotam uma real aptidão do autor que nunca nos cansamos de elogiar.
O desenho de Marcello começa a sentir a erosão dos tempos (sabemos que entretanto uma incapacidade física já o afastou do desenho), mas ainda mantém aqui muito da auréola romântica que sempre o caracterizou. A sua composição dos quatro pards é das mais conseguidas, mas merece especial destaque a forma como o autor consegue também construir uma galeria de psicopatas frios e loucos, desprovidos de qualquer sentimento como o bando dos sete assassinos. A figura de Jack Thunder parece ter sido estudada afincadamente pelo autor, tão sinistra nos surge em páginas latentes de destruição e loucura, mas a verdade é que qualquer outro dos elementos dificilmente seria composto de modo tão eficaz.
O desenho de Marcello já não surge tão fino de pormenor como em anteriores aventuras, de que destacamos forçosamente aquela da qual esta surge intimamente ligada, “O Passado de Kit Carson” (Boselli alude ainda a “O Homem Sem Passado”, quando Donna refere a relação que Kit manteve com Flor de Lua), onde o autor compôs páginas caracterizadas por um traço mais preciso, parecendo agora ausente em várias passagens.
Uma aventura memorável, digna de permanecer na galeria texiana das mais apreciadas e que poderá ter lançado mais um grande adversário para Tex, uma vez que a morte de Jack Thunder nunca foi verificada pelo ranger, deixando uma abertura para um eventual regresso.
Texto de Mário João Marques
Póster Tex Nuova Ristampa 26

Novo desenho de Claudio Villa, onde vemos Tex Willer chegando montado no seu fiel Dinamite, ao velho Pueblo dos Cayuses, onde estavam Bill Cassidy e Sam Tracy aguardando por Red Curry (entretanto capturado por Tex) para dividirem o saque de um audacioso assalto ao banco Fargo de Yucca Flat, no Colorado.

Desenho usado no Brasil como capa de Tex Edição Histórica #27 e inspirado na história, “Una audace rapina” de G. L. Bonelli e Galleppini (Tex italiano #44).
(Para aproveitar a extensão completa do poster clique no mesmo)


Arte de Virgilio Muzzi


Tex Gigante 14: Sombras na Noite

Argumento de Claudio Nizzi, desenhos e capa de Roberto de Angelis.
Com o título original
Ombre nella Notte, a história foi publicada em Itália no Tex Albo Speciale nº 18 em Junho de 2004 e no Brasil pela Mythos Editora em Outubro de 2004.

Sombras na Noite representa mais uma incursão texiana no domínio do fantástico. Bonelli tinha conseguido, com sucesso, esta entrada do ranger por domínios que sempre cativaram o leitor. Lembramo-nos, assim de repente, de El Morisco, Mefisto, Yama, mas sobretudo de Diablero, em cuja criatura Nizzi parece ter sido inspirado ao assinar este argumento.

A história é suficientemente cativante para o leitor, é mesmo uma das melhores que Nizzi nos apresenta desde há alguns tempos a esta parte, mas sofre de uma certa falta de equilíbrio. Sendo mais uma versão do clássico Dr. Jekyll e Mr Hide, Nizzi consegue, ainda assim, juntar-lhe o contraponto da eterna questão de se saber onde termina a ciência e começa a magia ou ainda laivos de uma certa moralidade cristã que nunca viu com bons olhos o subverter as leis naturais. Se Nizzi sempre se revelou maniqueísta, em Sombras na Noite o autor acaba por nunca defraudar o leitor neste particular aspecto, uma vez que o ideal patente é o do eterno conflito entre o bem e o mal, aqui apresentado com um carácter altruísta.

No entanto, após apresentar toda a base do seu argumento, Nizzi acaba por revelar ao leitor toda a informação que lhe faltava, aquela que prendia a sua atenção e conferia um certo mistério do que estaria por detrás de toda a trama. Nizzi não soube guardar um pouco mais as expectativas, preferindo antes antecipar quase todas as explicações.
Não se trata de apontar fraquezas no argumento, na sua ideia geral, mas sim um certo desiquilíbrio no desenvolvimento do mesmo. As personagens, tal como as acções, vão surgindo de modo misterioso, para rapidamente tudo se desencadear sem percalços ao longo de uma aventura que acaba por se arrastar por um excessivo número de páginas.

Tex surge em Sombras na Noite como um conhecedor da alma do oeste, um homem cujo faro raramente o engana, como ele próprio tem oportunidade de dizer. Tex pensa antes de agir, Tex joga psicologicamente com este seu conhecimento e só passa à acção física quando as condições assim o impõem. Para os puristas, este é um Tex medroso e estanque, um herói envelhecido. Nizzi tem sido duramente criticado por ultimamente adoptar esta postura para o ranger, conferindo a Tex uma maior espessura psicológica, esta sua faceta dialogante em detrimento da “conversa de mãos” que tanto sucesso fez com G.L. Bonelli. Em Sombras na Noite Tex só passa à acção física após decorridas mais de 180 páginas.

Mas se o Tex bonelliano era sobretudo um duro, porque sustentado nesta acção física , o Tex nizziano, não descurando esta, é porventura mais maduro. Repare-se em toda a subtileza patente na página 187 onde Nizzi consegue congregar estas duas facetas do ranger. Após ter esmurrado Sammy no estábulo, na boa maneira bonelliana, Tex saca da sua arma e, através de um fabuloso jogo de mãos, o ranger passa a uma atitude de violência psicológica, esta mais do agrado de Nizzi. Se o Tex de Bonelli não perdia tempo, este “novo” Tex adopta uma outra atitude, tendo tempo para sacar a arma, tirar as balas, fechar o tambor e girar o canhão, sequência toda ela superiormente representada através de belas imagens de De Angelis.

Se Tex raras vezes se assume verdadeiramente ao longo de todas as páginas de Sombras na Noite, a verdade é que muito da culpa está nos seus adversários. O mentor de toda a tramóia não é verdadeiramente um adversário como Tex tem encontrado ao longo das suas aventuras. Por trás dos reais objectivos do Dr. Sommers está a procura de algo de bom na espécie humana. Os verdadeiros adversários são então aqueles que aproveitaram as suas pesquisas para subverter o ideal de um médico, mas nunca se assumindo como reais ameaças à investigação do ranger. A crítica que podemos certamente fazer a Nizzi é que o autor acaba por escolher adversários sem carisma, que nunca obrigam Tex a aplicar-se.

Uma nota final para os outros pards, simples figurantes nesta aventura. Carson surge-nos muito sério, sem aqueles deliciosos diálogos com Tex que tanto prazer nos dão. Kit não tem influência e Jack Tigre nunca se assume. Talvez aqui exista mais matéria de crítica a Nizzi do que propriamente saber que caminho Tex poderá vir a assumir no futuro.
Na entrevista que acompanha Sombras na Noite, De Angelis afirma ser um autor meticuloso e trabalhador e foi esta postura que pretendeu adoptar com Tex, mas por fim deixou-se levar pelo ambiente e pela personagem. Foi esta a impressão que, indubitavelmente, o autor italiano nos deixou.
Isso mesmo se nota na própria expressão adoptada para Tex.

Folheando Sombras na Noite, podemos ser levados a pensar que De Angelis vagueou entre Villa e Ticci na composição do ranger, mas com o desenrolar das páginas, a verdade é que o Tex de De Angelis é assumidamente e marcadamente ticciano.
Não só na figura do ranger se nota uma influência de Ticci (como quase todos os desenhadores o têm feito), mas de igual modo na composição de cada página, procurando De Angelis oferecer muitas perspectivas de conjunto e conferir assim uma expressão global a cada cena.

O autor mostra-se muito à vontade em ambientes nocturnos, onde o seu jogo de sombras e o seu domínio do claro e do escuro são bem evidentes, a que não é alheio o facto de De Angelis estar habituado a desenhar séries de ficção científica como Nathan Never. Também as cenas de interiores são muito ricas, cheias de detalhes.
Eventualmente, De Angelis assume-se em
Sombras na Noitecomo um dos melhores desenhadores destas edições gigantes dos últimos anos. Não só o seu desenho é rico, como a composição do ranger nos parece conseguida e fiel aos parâmetros a que o leitor está habituado.

Texto de Mário João Marques

José Ortiz: O Mestre da energia e vigor narrativo

Resumir a carreira de um autor como José Ortizem poucas linhas é uma tarefa praticamente impossível; de facto para se poder estudar como merece uma trajectória como a sua, requeria-se um livro, mas vamos tentar.


José Ortiz Moya nasce em Cartagena em 1932. Irmão do também desenhador Leopoldo Ortiz, começa muito cedo a descobrir a sua vocação e ganha um concurso de desenho realizado para a revista de banda desenhada Chicos em 1951. Nesse mesmo ano começa a trabalhar com a editora Maga, casa para a qual realizaria o grosso da sua produção durante a década de 50: série como El Espia, Dan Barry el Terremoto ou Pantera Negra. Em 1958 realiza para Toray Sigur, El Vikingo, série que se converte no maior êxito do início da sua carreira. O início dos anos sessenta marca também o final da época dourada do tebeo(revista de banda desenhada) popular, o que motivaria que toda uma série de autores voltasse a sua produção para o exterior através de agências. Assim,Ortiz começaria a produzir material através de Bardon Art, principalmente para o mercado britânico.

1973 marca um dos grandes pontos de inflexão da carreira de José Ortiz, ao começar a sua colaboração com a editora norte-americana Warren. O desembarque de toda uma frota de desenhadores espanhóis serve para dar uma difusão internacional ao trabalho de artistas como Luis Bermejo, Esteban Maroto, Leopoldo Sánchez ou José Ortiz. Estima-se que Ortiz realizou 119 histórias para a Warren, o que o converte no desenhador mais profícuo da editora. Revistas como Eerie, Creepy, 1984, Rook o Vampirella viram aparecer os seus trabalhos, entre eles destaca-se com um brilho próprio Los cuatro jinetes del Apocalipsis; obra que nos serve como exemplo do labor de José Ortiz para a Warren, mediante todo o seu esbanjar de técnica, vigor narrativo e o seu pessoal e espectacular estilo de “entintar” – aqui pode-se destacar a célebre técnica de “lâmina de barbear”, marca da casa também de outros grandes desenhadores como Dino Battaglia.

A etapa Warren do trabalho de Ortiz dura praticamente até 1981. Simultaneamente a ela realiza também uma série de histórias com argumentos de Josep Toutain, que reproduziam a História de diversas lendas do “Faroeste” norte-americano, que se recompilaram em dois “tomos” sob a epígrafe Grandes mitos del Oeste, e que ademais servem-nos para realçar o grande carinho queOrtiz sempre teve pelo género western. A essa etapa pertencem também El pequeño Salvaje, história que contava com argumento próprio, os seus episódios da série El Cuervo e o seu trabalho com Tarzan – em que se recorda o vigor e a vitalidade que José insuflou à personagem.

1981 marca o que é seguramente o ponto chave da carreira de Ortiz: O regresso ao mercado autóctone para realizar uma obra mais pessoal, coincidente com o início da sua colaboração com Antonio Segura. A primeira criação da dupla Segura-Ortiz foi Hombre, uma série de ficção científica próxima e pós apocalíptica que rompeu barreiras na sua época, pelo seu tom lúgubre e desencantado e pelo incrível grafismo de Ortiz

, tanto na primeira etapa a preto e branco, como na posterior, colorida.










A assinatura Segura-Ortiz converte-se a partir de então em habitual nas revistas de banda desenhada de vários países durante os anos oitenta e na primeira metade dos anos noventa. Em 1983, embarcam no projecto de autogestão que se chamou Metropol; Ives foi a série que criaram para a revista, uma história do género “noir” e ambiente carcerário. No ano seguinte criam essa obra-mestra denominada Las mil caras de Jack el Destripador, praticamente ao mesmo tempo rebaptizam Ives como Morgan, uma “nova” série de 23 episódios, todos eles realizados a preto e branco.

Através de Selecciones Ilustradas, a agência de Josep Toutain, criam em 1987Burton & Cyb, série cómica e cósmica sobre as andanças de dois enganadores inter-galácticos

que beneficiam de uma cor luminosa e de toda a arte de desenhar de Ortiz na hora de criar e recriar mundos e seres alienígenas com inegável graça. Entretanto a revista Gran Aventurero ofereceu-lhes em
1990 a oportunidade de produzir
Juan el Largo, obra composta por dois álbuns e que recupera o espírito da aventura clássica mediante as andanças de um peculiar grupo de piratas nos mares do Caribe. Alem do seu trabalho comSegura, Ortiz continuou a trabalhar, através da agência Norma, uma série de trabalhos para o estrangeiro: como episódios de Rogue Trooper ou Judge Dredd para a editora 2000ad britânica ou episódios de sabre para a editora norte-americana Eclipse.

O êxito internacional dos trabalhos da dupla Segura-Ortiz, unido à crise do mercado espanhol, fez com que a partir de 1990 produzissem o seu trabalho directamente para a indústria italiana. Desse modo criam Ozono para a revistaL’Eternauta, uma série do género “noir” com um alto conteúdo de denúncia ecológica, e But O’Brien, livro de cabeceira sobre um ex-boxeador metido a guarda-costas, publicado na revista italiana Torpedo. Chegamos então a 1993, ano em que se inicia a relação de Ortiz com a Sergio Bonelli Editore. Como o próprio Sergio reconheceu, a ideia de convidar José Ortiz para realizar um dos seus Tex Gigantes já estava congeminando desde há vários anos, até que finalmente o conseguiu convencer. A partir desse momento Josécomeçará a trabalhar quase em exclusivo para a Sergio Bonelli Editore, realizando uma história em quatro partes, de Ken Parker e vários episódios de Mágico Vento, além de todo o seu trabalho em Tex.

La grande rapina, o Tex Gigante de 1993, traz o seu primeiro trabalho com Tex. Trata-se de uma história de 224 páginas em que Tex e Carson devem desarticular um bando de ladrões de trens estendendo-lhes uma armadilha quando se dispõem a roubar o pagamento do exército. A história escrita por Nizzi serviu para que Ortizfosse se adaptando às personagens – com o género nunca teve nenhum problema já que, como podemos ver na história, é um autêntico especialista – e em especial com Kit Carson, cuja sua interpretação é uma das mais atractivas de toda a saga de Tex.


O trabalho seguinte de Ortiz inclui ademais a chegada de Antonio Seguraà escrita da série. Il cacciattore di fossilie L’oro del sud,editados em Novembro de 1997 e Outubro de 1999 respectivamente, são duas histórias de 350 páginas a primeira e de 270 páginas a segunda que inauguravam a sua participação na colecção Maxi-Tex (edições nºs 2 e 3, que já tinha tido um primeiro número com uma história da dupla Giancarlo Berardi/Guglielmo Letteri) e nas quais para além do habitual despejar de talento do desenhador, há que ressaltar a especial convicção de que ambos os autores fazem gala: algo que terá tido a ver com a boa aceitação que os leitores dispensaram a ambos os volumes.

No intervalo de ambos os Maxi-Tex, José Ortiz incorpora-se no grupo de desenhadores da série mensal. Os episódios 449 e 450 abarcam a história Gliuomini che uccisero Lincoln, a primeira das suas sagas que conta com argumento de Nizzi. Consiste em uma intriga de carácter quase político em que Tex e Carson, de uma maneira quase casual, vêm-se implicados numa investigação que os levará a descobrir quem estava por detrás do assassinato do presidente Lincoln. O que primeiro salta à vista ao analisar ambas as revistas é que não se tratava de uma história de características muito adequadas para poder aproveitar as melhores qualidades do seu desenhador; uma história desenrolada num ambiente urbano e em espaços fechados que não permitia a Ortiz explorar o seu vigo narrativo da mesma maneira que quando desenha guiões desenrolados em espaços abertos. Tudo isso fica ainda mais claro ao analisar os seus trabalhos seguintes na série mensal e em especial nas duas histórias seguintes escritas por Boselli.

Sulla pista di Fort Apache é uma história em três partes editada nos números 458 a 460 na qual Tex e Jack Tigre se vêm no meio de um grupo de índios rebeldes e do exército, tentando evitar uma nova guerra índia. La miniera del fantasma, história em duas partes publicada nos números 478 e 479 da série mensal, traz-nos Carson e Tex investigando a lenda de uma mina sobre a qual aparentemente pesa uma maldição. Ambas as histórias fazem parte das mais valorizadas pelos leitores nos últimos anos.

Os números 494 a 496, editados em 2002 a última história antes do mítico Tex 500 ilustrada por José Ortiz na série mensal. Tratou-se de um argumento escrito por Nizzi que começa quando o chefe de uma tribo Dakota pede ajuda a Tex e Carson ante o estranho comportamento de alguns jovens guerreiros, que se uniram numa espécie de conspiração inter-racial encabeçada por um misterioso individuo que oculta o seu rosto por trás de uma máscara de madeira.

Após o Tex 500, José Ortiz continua firme no seu trabalho de desenhar Tex e já participou em diversas outras histórias: Tex 515 a 517 (Il lungo viaggio), Tex 540 e 541 (Puerta del diablo), Tex 550 e 551 (Un treno per Redville) sempre com argumentos de Claudio Nizzi e ainda o Maxi Tex 2004 (Il treno blindato), com argumento Antonio Segura.

Se alguém analisar a lista de actuais desenhadores do staff de Tex, é indiscutível que há dois nomes que brilham com luz própria. A presença de dois autores da grandeza deGiovanni Ticci e de José Ortiz é um autêntico luxo que muito poucas – para não dizer nenhuma – colecção de banda desenhada pode permitir-se. De facto qualquer editor faria os possíveis e os impossíveis para ter tão só um dos dois como ilustrador de uma sua série. Ante a hipotética pergunta do que é que José Ortiz trouxe ao Tex, diríamos que energia e vigor narrativo. Porque Ortiz não só domina a cenografia do western na perfeição, como é um dos escassos autores capazes de desenhar qualquer coisa de qualquer ângulo – e sem aparente dificuldade – e o verdadeiramente impressionante é que se colhermos ao acaso qualquer sequência de acção desenhada por ele, teremos todo um tratado de como dinamizar a acção, como captar o movimento, como eleger o plano adequado para qualquer momento…

Cremos que algum dia os cientistas que se dedicam à Física deveriam voltar-se para um autor como José Ortiz para estudar como se pode criar pura energia utilizando somente lápis e pincel.

Texto de José Carlos Francisco, baseado no livro-catálogo “Tex Habla Español”.


Póster Tex Nuova Ristampa 25

Neste desenho de Claudio Villa vemos Tex Willer invadindo a pequena fortaleza às margens da cidade do Ouro, no deserto do Arizona, reino do Príncipe Negro, um pérfido tirano, disparando com o seu colt contra um soldado espanhol armado com um arcabuz mas protegido com uma armadura como no tempo dos antigos conquistadores de Cortez, após ficarem isolados numa cidade cercada, durante 100 anos.

Desenho usado no Brasil como capa de Tex Edição Histórica #26 e inspirado na história, “Lo stregone dei Sabinas” de G. L. Bonelli e Galleppini com a colaboração de Francesco Gamba (Tex italiano #42 a #44).
(Para aproveitar a extensão completa do poster clique no mesmo)

Texto de José Carlos Francisco

Arte de Roberto Diso




Tex Ouro 20: A Volta de Zhenda

Argumento de Claudio Nizzi, desenhos de Fabio Civitelli e capa de Aurelio Galleppini.
Com o título original
Gli spiriti della notte
, a história foi publicada em Itália nos números 346 a 349 em 1989 e no Brasil pela Mythos Editora emSetembro de 2005.

Afinal a bruxa Zhenda não está morta e, aliada a um contrabandista de armas, vai enfeitiçar o seu próprio filho Sagua, com o objectivo de o colocar como legítimo chefe dos Navajos. Com a ajuda de uma primitiva tribo de índios, Zhenda pretende liquidar Tex e os seus parceiros e dominar os Navajos.

Nizzi utiliza um tema que não prima pela originalidade, não só porque a questão da usurpação do poder não é nova, mas também porque ela já está associada à personagem de Zhenda, desde que G.L. Bonelli a criou em 1965, uma espécie de Mefisto de saias, também ela com o objectivo dominante de liquidar Águia da Noite.

A história é simples e resume-se em poucas palavras: Flecha Vermelha, antigo chefe Navajo, teve um filho com uma outra mulher, Zhenda. Esse filho é Sagua, que a feiticeira reclama como sendo o verdadeiro e legítimo chefe navajo e não Tex, que veio a tornar-se em Águia da Noite pelo seu casamento com Lilyth, a filha mais velha de Flecha Vermelha.

Bonelli já tinha apelado à magia e à feitiçaria para este caso “político”, tão ao gosto do leitor texiano e o que Nizzi vem agora relatar parte da mesma base e busca a mesma inspiração, os mesmos artifícios, em detrimento da originalidade que poderia ter guindado a aventura a outros patamares. Esta não foge muita da questão da usurpação do poder, uma ideia que não colhe os favores de Sagua, porque este nunca concorda com as ideias de Zhenda.

Águia da Noite conseguiu unir os Navajos, levando-os a trilhar os caminhos da paz, o que é bem mais importante do que questões dinásticas ou de sangue. Eventualmente neste preciso ponto poderá encontrar-se algo de novo em relação a Bonelli, porque Nizzi vem contrapor a ambição do sangue à realidade dos acontecimentos e ao bem estar da população navajo.

Passado o momento inicial de uma certa surpresa e inquietação decorrente do regresso de Zhenda, alguém que todos julgavam ter desaparecido para sempre, a verdade é que toda a aventura deambula nessa ideia base da questão do sangue como sendo a mais legítima para a obtenção do poder. Mas para Zhenda, isso mais não é do que uma auto justificação para os seus anseios e objectivos que passam por se vingar de Águia de Noite.

Aliada a Koster, um branco que negoceia em armas e que apenas pretende enriquecer, assim como aos Sinaguas, uma desconhecida tribo de índios primitivos, Zhenda serve-se dos seus dotes e artifícios mágicos para tentar obter os seus intentos. No final, tudo leva a crer que Nizzi poderá recuperar uma vez mais a personagem, a acreditar no destino de Zhenda que, no fundo, permanece uma incógnita.

O desenho de Civitelli é muito limpo, seguro e de rara beleza. Apesar de estar à vontade em qualquer registo, o seu desenho assume-se em toda a sua plenitude em ambientes urbanos.

Aqui, em expensas pradarias e montanhas rochosas, Civitelli não desilude, muito pelo contrário, mas a verdade é que fica sempre uma sensação de asfixia, decorrente de uma certa repetição dos cenários. O desenho de Civitelli entra mais pelos olhos quando o detalhe faz a diferença, enriquecendo cada quadrado com a sua marca. Pelo contrário, esta aventura acaba por não permitir ao autor deixar esse algo mais, apesar de um trabalho irrepreensível, muito dinâmico e elegante.

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