quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Tex Série Normal: A Volta de El Morisco

Argumento de Mauro Boselli, desenhos de Guglielmo Lettèri e capas de Claudio Villa. Com o título original Il ritorno del Morisco, a história foi publicada em Itália nos nº 452 e 454 e no Brasil pela Mythos Editora nos nº 367 a 370.

El Morisco é uma personagem marcante no universo texiano. Criada em 1967 por G.L. Bonelli, na aventura Formiche rosse, o Bruxo Mouro, nome pelo qual também é conhecido, cedo se tornou numa das personagens mais fascinantes e emblemáticas, alguém a quem Tex recorre quando tem que enfrentar as forças mais ocultas e misteriosas. A sua presença em qualquer história é sinónimo de uma viagem através do desconhecido e onde tudo parece ser possível.

Depois de desvendar um pouco do passado de Kit Carson e de Tex (em “Os Invencíveis“), Boselli regressa ao mesmo registo e apresenta um pouco do passado de El Morisco, um passado enigmático e que começa na primeira metade do século XIX, quando, no deserto de Sakkara no Egipto, ele acompanha e auxilia Octave e Davids, dois egiptólogos que pretendem encontrar o túmulo de Akhran, um sacerdote que viveu na época de Amenófis IV, o que desagrada aos Filhos de Hórus, uma associação de nacionalistas fanáticos que pretende manter viva a cultura dos antigos egípcios.

Anos mais tarde, Tex e Carson salvam Jesse Hawks, um velho ranger, de um ataque de índios e decidem ajudá-lo a perseguir Juan Raza, um mestiço que sequestrou duas crianças mexicanas. Mas este sequestro acabará por este intimamente ligado ao passado de El Morisco e a Akhran.

Boselli realiza uma aventura de grande fôlego em ambiente fantástico e histórico, onde faz uso da sua grande capacidade em utilizar o flashback e também em construir personagens de grande densidade psicológica.

Ao falar de um certo passado de El Morisco, o autor levanta mais uma ponta do véu sobre tão enigmática personagem, fazendo igualmente uma certa evolução na mesma, algo que até então não tinha acontecido. Com a composição do mestiço Juan Raza e a relação que este vai estabelecer com as duas crianças sequestradas, Boselli prova a sua habilidade em caracterizar comportamentos. Raza assume-se ao longo de toda a aventura como um guerreiro implacável, duro e espontâneo, mas também alguém capaz de entender sentimentos e de interpretar relações.

Letteri tinha criado a figura de El Morisco no papel e foi com o seu traço que o leitor sempre se habituou a identificar a personagem. Por isso, nada mais natural que tenha sido ele novamente o escolhido para dar outro fôlego a El Morisco. Mas esta aventura é a prova cabal em como o resultado final de uma história pode ser prejudicado por um desenho sofrível. Já nos seus tempos áureos o desenho de Letteri pecou sempre por falta de dinamismo e uma certa repetição de planos e sequências. Agora, já com outra idade, o desenho de Letteri sofre dos mesmos defeitos e sobretudo começa a falhar nas formas e na ausência de rigor.

Numa aventura como esta, onde a expressividade das personagens deveria estar sempre presente, o que não faria um Villa ou um Venturi, artistas que, para além das suas muitas qualidades, investem sempre muito do seu desenho na elaboração das personagens.

Texto de Mário João Marques


Póster Tex Nuova Ristampa 31

Neste desenho de Claudio Villa, vemos Tex Willer numa cripta subterrânea do templo do Tigre, num dramático duelo corpo a corpo, arrancando um cordão mágico do pescoço de Amaxos, a décima terceira múmia, um antigo sacerdote asteca, que de seguida sofrerá uma pavorosa transformação, desintegrando-se.

Desenho usado no Brasil como capa de Tex Edição Histórica #30 e inspirado na história, “La tredicesima mummia” de G. L. Bonelli e Galleppini com a colaboração de Virgilio Muzzi (Tex italiano #49 a #51).
(Para aproveitar a extensão completa do poster clique no mesmo)

TIMOTHY O’SULLIVAN

Timothy Henry O’Sullivan, o simpático fotógrafo encontrado por Tex no decurso de uma aventura que tem por fundo a floresta tropical em que será “aberto” o Canal do Panamá, é uma personagem realmente existente. Nascido em 1840, foi um pioneiro da fotografia: sobretudo daquela de carácter histórico, antropológico e geográfico. Imortalizou a Guerra da Secessão, seguiu diversas expedições científicas e carregou realmente o seu equipamento fotográfico na selva de Darién, documentando, entre mil dificuldades, o reconhecimento sobre o local do futuro Canal. Mais tarde, retornou ao Oeste, para fotografar os índios, os canyons e os desertos. O frio extremo das Montanhas Rochosas e o calor tórrido do Vale da Morte tiveram decerto a ver com o seu físico tenaz mas frágil: O’Sullivan morre em 1882, somente com quarenta e dois anos.
(Para aproveitar a extensão completa da foto acima clique na mesma)

QUEM É TIMOTHY O’SULLIVAN

Tex conhece Timothy O’Sullivan, um “caçador de imagens”, que não hesita em enfrentar perigos de todo o género, armado somente de uma pioneira máquina fotográfica ainda no Arizona, mas logo se vê envolvido numa expedição à selva do Panamá.
Realmente existente, O’Sullivan dedicou a sua breve existência a uma única missão: descobrir e imortalizar a aventurosa realidade do mundo em que vivia.

Quem diabo você é?”, pergunta Tex ao homem que desce de uma carroça, afortunadamente ileso, depois de ter escapado de um ataque de alguns índios. “Sou Timothy O’Sullivan, fotógrafo de profissão, em viagem de trabalho entre Lees Ferry e Gallup”, apresenta-se o recém aparecido. “Incrível!”, exclama o Ranger. “Quer dizer que anda sozinho pelo Oeste só para tirar fotografias?”. “Isso mesmo, Mister”, é a resposta. Timothy Henry O’Sullivan foi realmente um pioneiro da fotografia que girou pela América de uma extremidade a outra, documentando com os seus disparos, a vida da Fronteira e a beleza da natureza ainda imaculada do Oeste Americano, mas foi também percursor das reportagens fotográficas de guerra. Antes dele, somente um outro fotógrafo tinha fotografado um campo de batalha: Roger Fenton, que tinha estado na Crimeia, limitando-se, porém, a retratar oficiais, soldados, cavalos e artilharia.


O’Sullivan, ao invés, seis anos depois de Fenton interpretou num modo completamente diferente o papel de “testemunha ocular”, imortalizando as batalhas na acção e mostrando as consequências após os combates terminados: mortes, feridos, destruição e dor. E o conta também a Tex, ao qual faz ver uma dramática imagem tirada em Gettysburg: “Eu estava lá”, disse-lhe, “assim como estava em outras batalhas, não menos sangrentas, como as de Bull Run e de Appomattox. Lá as coisas ficaram negras. Por duas vezes a máquina voou das minhas mãos por causa dos deslocamentos de ar provocados pelas bombas.”. Agora, porém, O’Sullivan está para dedicar-se a outra missão. Foi encarregue pelo governo dos Estados Unidos, para se agregar a expedição de especialistas que deverá verificar a possibilidade de se realizar um ambicioso projecto: “cortar” o istmo do Panamá, escavando um canal que meta em comunicação o Oceano Atlântico com o Pacífico.

“A expedição será composta por especialistas em botânica, geologia e engenharia, e ainda de um contingente militar que deverá escoltar o grupo de técnicos pela selva tropical, defendendo-a dos perigos.” Explica o fotógrafo.
Perigos, de facto, não faltam: trata-se de enfrentar pântanos, charcos, chuvas torrenciais e doenças tropicais, motivadas por serpentes, insectos, aranhas venenosas e feras ferozes. Mas, sobretudo, há que conter a fúria dos índios Guaymi, os selvagens habitantes da floresta da América Central, que têm o hábito de receber os estrangeiros com setas envenenadas.
O’Sullivan está habituado a correr riscos e sempre se desloca com o seu equipamento (a pesada máquina, o cavalete, as garrafas de reagentes químicos para imprimir as fotos) para todo o lado enquanto se aventura no seu desejo de “capturar” a realidade: portanto, é a pessoa certa para reportar para a pátria todas as imagens que possam servir para melhor projectar o canal.

Embora não seja do tipo de se virar para trás defronte de dificuldades e ameaças, não é, porém, um homem de acção, e Tex, que se encontra envolvido na mesma expedição, junto com o filho Kit, salva-lhe a vida, várias vezes, libertando-o de uma serpente ou protegendo-o dos repetitivos ataques dos “índios bravos”.

Pecado que a única foto que O’Sullivan tira de Águia da Noite fique irremediavelmente perdida. A imagem – que representava o Ranger enquanto golpeava com um poderoso punho, durante uma rixa em Cartagena, um oficial do exército colombiano – era extraordinária, deixando até o seu autor orgulhosíssimo de ter sabido escolher o momento: “Não obstante Tex e o outro estarem em movimento, a foto ficou muito nítida.”.

É porém inútil procurar aquele disparo entre os tantos deixados para a posteridade pelo “fotógrafo mais intrépido dos Estados Unidos.”, como o mesmo O’Sullivan se define no término da aventura.

A fotografia e o próprio negativo foram destruídas por Phil Turner, coronel do serviço especial do Ministério dos Negócios Estrangeiros americano, o qual entende não dever deixar algum vestígio do caso, para evitar incidentes diplomáticos.

Uma das primeiras fotos censuradas da história da fotografia!

Texto de José Carlos Francisco, baseado no fascículo nº 26 de “Il Mondo di Tex”, editado pela Hachette Fascicoli sob autorização da Sergio Bonelli Editore,


em 23 de Setembro de 2006

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